A consciência do Trauma na Parentalidade & Educação
Hoje recupero uma newsletter antiga, reeditada agora e inspirada na The Wisdom of Trauma Talks on Trauma Series que ontem teve início, com o Dr. Gabor Maté. (de quem fui aluna e costumo dizer, serei sempre) para vos falar de trauma na parentalidade & educação – do que é, como se manifesta – com a intenção de elevar ainda mais consciências para a sua existência, e para o facto de que não só é possível prevenir, como curar. Esta consciência permite curar as famílias e prevenir dor e sofrimento desnecessários, nas mesmas e já sabemos que as famílias são o microcosmo do mundo! Portanto, transformar uma família é transformar o mundo! Há esperança! Como diz Gabor Maté, “tudo é possível!”
Quantas vezes paramos para observar o movimento que emerge no nosso corpo (mente somática)? E para investigar a verdadeira causa do desconforto, sobretudo quando é frequente? Ou a causa da adição (que é um sintoma) que temos e pode ser qualquer uma, passar demasiadas horas nas redes sociais, comer excesso de doces, necessidade exagerada de sexo, pornografia, de limpeza, álcool, horas a fio em exercício físico…?
Todas elas são expressões de traumas, a grande parte congelados na 1.ª infância. Partes nossas que continuam por ser vistas, reconhecidas, acolhidas e transcendidas.
Mas afinal, o que é um trauma?
Existem várias descrições. Na Parentalidade Generativa estão presentes as de Gabor Maté e do Dr. Peter Levine (continuo a assistir às suas aulas on-line), e cujos ensinamentos são parte da certificação Practitioner em Trauma & Resiliência, do HeartMath Institute (a qual frequentei). O trabalho de ambos conecta com o que a Programação Neurolinguística (PNL), sobretudo Judith DeLozier (a mãe da PNL e responsável pela introdução da mente somática neste campo), nos diz relativamente ao tema, desde há pelo menos 40 anos.
“Trauma não é o que nos acontece. É o que acontece dentro de nós, como resultado do que nos aconteceu.”
Gabor Maté
“Trauma não é o que nos acontece, mas o que guardamos dentro de nós, na ausência de uma testemunha empática.”
Dr. Peter Levine
Em consequência, o que acontece é que nos desconectamos das nossas emoções e do corpo. Temos dificuldade em estar presente no aqui e agora e desenvolvemos uma imagem negativa de nós próprios, do nosso mundo. Começamos a defender-nos dos que nos rodeiam, mesmo quando nos querem bem.
Um trauma pode surgir de eventos que aconteceram e não deviam ter acontecido ou quando coisas boas que deveriam ter acontecido e não aconteceram. E pode também passar de geração em geração – trauma geracional (como vos explico no meu último livro “Gurus de Palmo e Meio” – até que alguém tenha a coragem de o curar.
Qual o maior desafio de um trauma?
Não é apenas reconhecer o que aconteceu no passado, até porque muitas vezes, é totalmente desconhecido, mas sobretudo, reconhecer as suas manifestações no presente e manifestam-se no corpo, é lá que estão armazenadas.
Como é possível uma criança ser traumatizada?
Para Gabor Maté, existem particularmente duas formas:
Uma é a criança ser vítima de violência familiar – agressões físicas, verbais, castigos, negligência… Outra é ao não ver as suas necessidades atendidas – conexão, amor, compreensão, não ser vista, reconhecida e aceite por quem é, em vez de quem gostariam que ela fosse.
Parece-me muito claro que podemos fazer diferente do que tem vindo a ser perpetuado desde há séculos. É mesmo essa a proposta da Parentalidade Generativa e é por isso que vamos continuar a trazer luz a este tema, numa comunidade global, alargada e generativa, em prol de algo maior.